domingo, 27 de março de 2011

UNIDAS EM UMA CENTRAL - clarisse libano


Se um internauta pesquisar “Arautos do Gueto” em qualquer site de busca da internet, as três primeiras opções são notícias veiculadas nos sites da Cufa, da ONG Favela é Isso Aí e da Associação Imagem Comunitária (AIC). As três organizações trabalham para dar projeção e visibilidade à produção dos morros.
A associação Favela é Isso Aí é fruto do Guia Cultural de Vilas e Favelas de Belo Horizonte, idealizado pela antropóloga Clarice Libânio, também coordenadora geral da ONG. O livro identificou e cadastrou 740 grupos culturais das 226 vilas, favelas e conjuntos habitacionais da capital, envolvendo cerca de sete mil pessoas.
A pesquisa que resultou no Guia Cultural mostra que apenas 20% dos artistas e grupos nele relacionados sobrevivem de seu trabalho artístico. “São poucos espaços destinados ao artista, é difícil obter qualificação, há ausência de patrimônio e instrumentação para a concretização material e faltam condições para divulgar e comercializar”, relata Clarice Libânio.
O grupo Arautos do Gueto enfrenta alguns desses problemas: desde 2007 opera sem espaço físico, ocupando locais cedidos através de parcerias com instituições da vila. Além disso, o grupo está atualmente sem financiamento da Lei de Incentivo à Cultura. O Favela é Isso Aí executa ações no sentido de minimizar entraves à produção cultural. Os associados mostram aos moradores meios de arrecadar recursos, principalmente os oriundos das leis de incentivo à cultura.
A AIC, ONG belo-horizontina que atua desde 1993 na promoção do acesso público aos meios de comunicação, combate uma percepção estigmatizada das favelas. “Procuramos desconstruí-la e mostrar toda a diversidade daquele ambiente. A cultura gerada nas favelas não é devidamente valorizada ou incorporada, ainda é marcada por uma visão assistencialista”, explica a diretora institucional da Associação, Rafaela Lima.
O objetivo da AIC é que os grupos nascidos nas favelas tenham visibilidade suficiente para participar do debate público. “A cultura é um canal para discutir e promover política”, diz Rafaela. O envolvimento da população de vilas e favelas com arte, cultura e mídia amplia a ideia de cidadania para além dos direitos políticos. “O produto artístico traz, em si, a história dos agentes culturais e de sua comunidade e as propostas de sua transformação. É exatamente com a ampliação do conceito de cidadania que se torna possível a transformação social pela via artística”, ensinam Clarice Libânio e Ronaldo Silva no artigo “A arte a serviço da transformação social”.
Além de contribuir para a socialização no interior da comunidade, a ação do Arautos do Gueto também mudou a percepção externa sobre o Morro das Pedras. “O Morro das Pedras não aparece apenas nas páginas policiais”, conta José Inácio. É a cultura reinventando o conceito de favela.

2 comentários:

  1. "São poucos espaços destinados ao artista, é difícil obter qualificação, há ausência de patrimônio e instrumentação para a concretização material e faltam condições para divulgar e comercializar”, relata Clarice Libânio.
    A NECESSIDADE DE UM ESPAÇO ONDE ESSA COMUNIDADE POSSA EXPOR SEUS TRABALHOS.

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  2. Sim! Este é um problema que pode ter uma contribuição bem efetiva da arquitetura e do urbanismo.

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